Património
Este é um projeto desenvolvido em parceria com o IEC - Instituto de Educação e Cidadania da Mamarrosa, e pretende promover anualmente o fomento de hábitos de escrita na nossa comunidade e no âmbito nacional. É objetivo da PROMOB e do IEC valorizar a coragem de escrever e ilustrar, premiando os melhores trabalhos entre os participantes.
Com o Concurso, perpetuamos, ainda, o nome, vida e obra da Professora Rosinda de Oliveira, cujo trabalho em função da cultura e da educação na nossa comunidade, nos comove e motiva, mais que justificando, por isso, a atribuição do seu nome a este concurso literário.
Desde o seu início, o Concurso já premiou mais de seis dezenas de trabalhos, tendo recebido cerca de duas centenas de textos vindos de todo o país.
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Nas comemorações de aniversário da Professora Rosinda, serão entregues os prémios e certificados.
SÃO
AS PALAVRAS
QUE
ATRAVESSAM
O MUNDO
A PROFESSORA
Rosinda de Oliveira, filha de Rosa de Jesus, também conhecida por Rosa de Oliveira, nasceu a 2 de fevereiro de 1932, no lugar dos Penedos, Freguesia de Covões, Concelho de Cantanhede, Distrito de Coimbra.
Formação Escolar Básica
Frequenta a Escola Primária Feminina da Mamarrosa, de 1939 a 1943, donde sai com o exame de admissão ao Liceu, sendo sua Professora a Senhora D. Cacilda Pato Macedo, do Troviscal.
Sai da Escola Primária, em 1943, e dedica-se a vários trabalhos agrícolas, domésticos e até pequeno comércio (como o negócio dos ovos). São anos de muita tristeza, desânimo e revolta incontida, e de um desejo louco e insaciável de ler tudo o que apanha.
Pelas mãos de um primo, hoje Professor Manuel Modesto, que frequentou o Seminário, tem acesso a vários livros que devora nas horas livres da sesta e à noite, à luz da candeia de petróleo.
No fim da faina diária, ao serão, regra geral à lareira, rodeada de pessoas de bastante idade, vizinhas e amigas da aldeia, recita poemas e diz textos vários que facilmente memoriza.
Recomeço do Estudo
Em 1949, consegue matricular-se no Colégio de Oiã, a expensas da Câmara Municipal de Oliveira do Bairro. Um dos tempos mais felizes de toda a sua vida. Escreve vários poemas que declama para os colegas.
Em 1951, passa para o Colégio de Oliveira do Bairro, concluindo, em 1952, o antigo 3º ano, corresponde ao atual 9º ano. Continua a ler muito e a escrever, mas sem nada publicar, embora já então estimulada pelo Senhor Dr. Manuel Filipe, um dos seus professores. Findo aquele ciclo, não consegue continuar os estudos. Entretanto, aparece um tio “brasileiro” de Vila de Rei, chamado Manuel André, que, entusiasmado com o sonho daquela sobrinha, se prontifica a pagar-lhe o alojamento em Coimbra.
Em Coimbra, no Magistério
Em 1952, entra para a Escola do Magistério Primário de Coimbra (instalada na velha Quinta da Rainha). Aí contacta, pela primeira vez, com o estudo da Psicologia que muito a apaixona.
Frequenta regularmente a Biblioteca Municipal onde lê tudo o que apanha sobre aquela ciência, que aliás também procura nas livrarias da cidade.
Na comemoração do 10 de junho, é convidada pelos Professores do Magistério a proferir uma palestra sobre “O dia da Raça”. Também na Mamarrosa, sempre afincadamente apoiada e incentivada pelo Senhor Dr. Manuel dos Santos Pato, profere alguns discursos, principalmente na receção que, naqueles tempos, se fazia aos laureados com qualquer curso médio ou superior. Escreve ainda para o Jornal “Orumo”, órgão da própria Escola. Colabora também em teatro. Em 1954, conclui o curso do Magistério Primário, com 17 valores.
Não se sente de forma alguma satisfeita, pois continua com um desejo louco de estudar, de aprender. Mas impossível: entretanto, o tio Manuel André morre, e a realidade não se compadece com a loucura de abstrações desligadas do mundo concreto.
Vida de Professora Primária
Vem exercer para a Escola Primária da Palhaça. Em 1955, leciona em Aveiro, na Escola da Vera Cruz. Preferia lecionar em Bustos ou Palhaça, mas fora contactada pelos seus Professores do Magistério Primário de Coimbra para dar aulas de Didática na Escola do Magistério Primário de Aveiro (então particular).
Todavia, visitada pela Diretora, a senhora D. Berta, esta, ao verificar in loco a sua pobreza, extrema simplicidade e desprendimento, não seguiu a indicação dos mestres de Coimbra, preferindo uma pessoa polida e de uma aparência bem apresentável. E, por estranho que pareça, este transtorno de mudança desnecessária durante um ano, e que acarretou vários gastos, nem sequer uma única vez foi comentado junto da Senhora D. Berta ou de qualquer outro responsável por aquela Escola, pois a Professora lesada, envergonhada e acobardada, calou, sofreu e continuou. É durante esses anos, que começa a escrever, mais ou menos frequentemente, para o Jornal da Bairrada.
Por volta de 1956, concorre para a Escola Primária do Tramagal, Abrantes, acompanhando o seu marido, com quem casara em 1954, e que é militar em Santa Margarida. Fica então na Escola da Penha, Tramagal, do Plano dos Centenários.
Dedica-se completamente à Escola e às crianças. Consegue a colaboração das pessoas da localidade, bem como da Junta de Freguesia. Ajudada pelo marido, faz da Escola um mundo de sonho e de pequenas maravilhas: um jardim com parque recreativo, uma horta, um pomar, um minimuseu. A Escola torna-se de tal modo conhecida, que desperta a atenção da TV (há pouco criada), que a apresenta ao País como modelo.
A Professora Rosinda escreve então bastante para o Jornal da Bairrada e para o Jornal de Abrantes. Ao mesmo tempo, em colaboração com a Senhora D. Maria Bastos Duarte Ferreira (benemérita das artes e que lançara a atriz Catarina Avelar, natural do Tramagal), escreve, adapta e ensaia pequenas peças e rábulas de teatro, apresentadas no Salão Recreativo da localidade. De salientar a peça sobre a Restauração da Independência, baseada na obra “O Alfageme de Santarém”, de Almeida Garrett.
Ao mesmo tempo, no Colégio do Sagrado Coração de Jesus, de Abrantes, faz o antigo 7º ano, correspondente ao atual 12º ano. De todas as disciplinas, a Filosofia é a que mais a fascina.
Em 1966, competindo com vários outros professores, muitos deles licenciados, concorre, a nível nacional, ao estágio para Professores Adjuntos do 8º Grupo do Ensino Técnico e Profissional. Como consegue classificar-se em número um, escolhe para fazer o estágio a Escola Brotero, de Coimbra.
Do Estágio na Brotero para o Ciclo Preparatório
O estágio dura dois anos: aí leciona Língua Portuguesa, Francês e História, tendo 21 tempos letivos semanais. Ao mesmo tempo, faz as chamadas Ciências Pedagógicas na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, com média de 16 valores.
Findo o estágio em Coimbra, concorre ao recém-criado Ciclo Preparatório, ficando em Anadia, mas leciona em Águeda, em comissão de serviço. Continua a escrever. Em Águeda, ajuda a encenar, com o Senhor Dr. Matos, um pequeno auto de Gil Vicente. Em 1969, vai para a Escola João Afonso, de Aveiro.
Trabalhando na secção da Escola dependente do antigo Liceu Masculino, hoje Escola José Estevão, aí adapta e leva à cena, em 1974, algumas passagens dos “Lusíadas”, nesse ano comemorativo da sua primeira publicação (fazia 400 anos).
Após o 25 de abril e já na nova Escola, adapta e encena, com outros colegas, vários trabalhos de teatro. Dentre estes, sobressai o “Auto de Santa Joana”, levado à cena nos Claustros do Museu de Aveiro, em 1990, aquando dos 500 anos da morte da Princesa. Escreve de vez em quando, tanto para o Jornal da Bairrada, como para o Diário de Aveiro e para o Jornal da Escola, “O Moliceiro”.
Sempre ligados ao seu labor profissional, participa nalguns projetos a nível educativo. Lembre-se um projeto, “Partir em viagem”, feito em colaboração com a Lacticoop e em que se insere numa pequena fantasia, auto da sua autoria (contra a poluição), “Entre o sonho e a realidade”.
Tendo frequentado mesmo um curso de Teatro e Arte Dramática, na Universidade de Aveiro, de 1992 a 1993, aí apresenta um outro projeto, “Um barco, um sonho”, cuja peça nele inserida é representada no Instituto da Juventude, bem como uma outra, “Mar – Luta – Dor”, no final desse ano letivo. Ainda dentro da sua atividade educativa, faz alguma investigação, principalmente sobre Aveiro, concorrendo com os seus alunos para a elaboração de pequenos livros e brochuras, especialmente começando um novo tipo de intercâmbio que se tornou em muitos aspetos pioneiro, como foi o caso com as Escolas de Rio Tinto e de Penedono.
Calcorreia também toda a Bairrada, recolhendo vários elementos da história, etnografia, costumes, tradições, que reúne em coletânea apresentada num concurso da Associação de Jornalistas e Escritores da Bairrada (AJEB), em 1989. Aliás, tendo-se inscrito na AJEB, participa nos vários encontros com algumas comunicações, como “Vale da Mó” e “Fornos de Cal”. O tema “Vale da Mó” encontra-se no volume editado por aquela Associação, em 1990, e “Fornos de Cal” encontra-se na revista ADERA.
Colabora também nas comemorações do centenário do escritor António de Cértima, ensaiando a peça “Marília”, levada à cena em Aveiro, em 1994, no Instituto da Juventude (mereceu-lhe uma medalha alusiva a este evento).
Requere a aposentação em 1996. Na sua despedida, o poeta Eugénio Beirão dedica-lhe o seguinte poema:
O Ofício de Servir
Era uma mulher na plenitude do sonho.
Tinha o ofício mágico de cultivar
as flores mais belas do mundo.
Como quem encontra um rosto amado
e o beija na manhã exaltante.
Como quem impele um barco parado na noite,
acendendo-lhe nas velas um sorriso de pura alegria.
Era uma mulher forte e sem liberdade.
Perdão! A sua liberdade gozava-a a servir.
A servir em todos os tempos,
a alindar o coração do mundo,
pois outra coisa não sabia fazer
(como ainda hoje acontece).
Tinha lá a sua oficina,
a forja azul onde modelava
almas e personalidades.
Fugia-lhe para lá o pensamento.
E o coração enchia-se com ela,
a sua Escola.
E valeu a pena, Rosinda!
O tempo deu para tudo isso
e muito mais.
Bem hajas pelo teu exemplo!
In “Rosa-dos-Tempos”
Continua sempre alentada por algumas réstias de sonho. A propósito, no dia 24 de abril de 1998, participa no Sarau promovido pela Escola João Afonso, de Aveiro, no edifício da Gulbenkian, integrado na comemoração dos 25 anos daquela Escola. Aí diz alguns textos poéticos da sua autoria e de outros seus colegas.
Segundo a própria, registe-se que se trata de uma pessoa muito desajeitada e desorganizada. A maior parte dos seus escritos fica espalhados por cadernos, agendas, blocos e papéis; qualquer coisa lhe serve para escrever, mas quase nunca ordena o que escreve. Quando escreve é porque as palavras insistem e persistem em passar para o papel, chegando a tirar-lhe dores de cabeça e muita agitação interior. Não sabe a razão por que escreve nem donde lhe vêm, muitas vezes, as ideias que querem tornar-se vocábulos. Sabe que fica bem, calma, quando passa para o papel o que lhe vai na mente. E, por isso, qualquer papelito serve. Aveiro, maio de 1998, Rosinda.
Rosinda de Oliveira falece no dia 2 de janeiro de 2015.