Património
Acolhida, nutrida, aconchegada e preparada ao detalhe, durante meses, pelos Jovens Artistas Unidos, a peça de teatro Os Gigantes da Montanha, do Prémio Nobel italiano, Luigi Pirandello, foi finalmente levada à cena por este coletivo de atores não profissionais, tão especial para nós.
A estreia deu-se no dia 9 de junho, frente a uma plateia praticamente lotada, no Quartel das Artes, em Oliveira do Bairro, e contou com a produção da PROMOB e da Associação Escolíadas.
Ⓒ Fotografias de Telmo Domingues
Subimos a cortina para um enredo muito especial, que acompanha mais de uma dezena de personagens, na vila mágica do Mago Cotrone. Pelo cenário, ligeiramente elevado, fazendo menção à montanha, as histórias envolviam-se e davam espaço a uma acesa reflexão e tertúlia sobre o valor do teatro, da arte, da sensibilidade e da imaginação. Com muita luz, brilho e cor à mistura. Com expressões determinadas, mas abertas a diversas interpretações, sobre o sentido da criação e da interpretação artísticas, e, claro, da vida em comunidade. Com sonhos, espíritos e fantasmas do que somos e queremos ser.
Depois de mais uma bela noite de teatro, a PROMOB agradece ao seu parceiro nesta aventura, a Associação Escolíadas, por toda a disponibilidade, entrega e prontidão. É destas sinergias que vivemos e queremos continuar a fomentá-las, pois só assim cumprimos a palavra “Comunidade”. Obrigado pelo brilho, a cor e o profissionalismo que proporcionaram ao nosso espetáculo.
À equipa do Quartel das Artes, pelo acolhimento. Por nos deixarem erguer montanhas, onde os espíritos da amizade, do companheirismo, da arte e da beleza reinassem.
Ao público, pela coragem de acreditar como acreditam as crianças, de peito e mente abertos, criando cenários de paredes iluminadas, deixando esvoaçar os seus próprios pirilampos, e permitindo-se viver, pelo menos por 90 minutos, nos mundos onde o tudo é nada e o nada é tudo.
E, claro, aos Jovens Artistas Unidos pelos muitos sonhos e esperanças que plantam em nós. Por habitarem a nossa casa e os nossos corações. Que bom é ter um grupo como vós para poder libertar os fantasmas que temos guardados há tanto tempo. “Gigantes” é muito curto para vos descrever.
Obrigado, obrigado, obrigado.
Os Gigantes da Montanha, de Luigi Pirandello
Os ensaios...
Depois de ocuparem algumas salas das nossas freguesias, como a do salão da AMMA, na Mamarrosa, os nossos atores vieram habitar o pátio da nossa sede, onde semana após semana deixavam a sua imaginação e criatividade fluir, estudavam o texto, debatiam entoações, escolhiam figurinos e criavam um laço profundo que os ajudaria a contar esta história de forma profunda, consistente e bela.
Nessa altura, conversámos com alguns deles, e percebemos a importância que o teatro comunitário tem no seu quotidiano.
Ricardo Regalado, um dos fundadores do coletivo, considerou o projeto um “ato de fé, de esperança e de coragem”, já que esta foi a primeira vez que os JAU interpretaram um texto clássico e tão denso, como Os Gigantes da Montanha. O mentor explicou a escolha da obra pela reflexão que ela proporciona acerca da importância do teatro, num meio com uma tradição rica em teatro popular, mas pouco expressiva, nos dias de hoje.
Carina Oliveira afirmou que fazer teatro é uma forma de ver o mundo de várias formas diferentes, “com vários olhos, com várias histórias, com várias personagens”.
E Patrícia Vale acrescentou que pertencer a um grupo de teatro comunitário lhe possibilitou reaver e reforçar as suas raízes. A atriz afirmou: “A vida leva-nos para outro tipo de rotinas, para outras cidades, e o regressar à terra, estar junto de pessoas da terra, traz mais significado, especialmente, quando temos este contexto comum”.
Que bom é podermos ver esta comunidade florir e fortalecer-se. Até à próxima!
Ⓒ Fotografias de Carolina Silveira