A origem do grupo de Cantares Populares de Bustos remonta a 1982, quando a motivação para criar obra pela terra e estreitar laços comunitários era nutrida pela “força agregadora da igreja”, que reunia jovens e pessoas de todas as idades. Essa ânsia e instigação levaram, em fevereiro de 1983, à criação da Associação Orfeão de Bustos, que incluía, como ainda hoje, um grupo coral e um grupo etnográfico, mais tarde designado Cantares Populares de Bustos.
Hoje, é este último que deambula pelo Passeio dos Artistas, acompanhado pela sua missão de “pesquisar, trabalhar e divulgar a música tradicional portuguesa”.
Depois de quatro décadas de história, pensar-se-ia que seria difícil encontrar inspiração. Mas o compromisso com a promoção e a preservação deste bem cultural, que é a canção tradicional portuguesa, vai falando mais alto dentro do grupo de Cantares Populares de Bustos.
Através de cancioneiros e trabalhos de recolha, o grupo vai reunindo um extenso reportório de cantigas, tantas vezes passadas de boca em boca, mas também de temas mais recentes em que a raíz tradicional se faz sentir e soar de forma categórica.
“Mantemo-nos fiéis a temas que reconhecemos como referentes ao período de finais do séc. XIX e princípio do séc. XX onde se situam as raízes da música tradicional portuguesa, mas também fazem parte no nosso reportório algumas canções que surgiram um pouco mais tarde”.
Estas canções vão sendo trabalhadas e moldadas pelas diversas configurações de instrumentos e vozes que o grupo vai tomando ao longo do tempo. E, no meio das diferentes formações, há duas coisas que se mantêm e se distinguem: a ligação afetiva cúmplice entre os elementos do grupo e “a vontade comum de divulgar a música tradicional portuguesa, (…) não dispensando a ligação à comunidade”.
Só assim, reconhecendo e compreendendo as nossas raízes musicais, é possível, considera o grupo, ter uma definição completa da nossa identidade cultural e uma visão mais global do que somos enquanto povo de usos, costumes, ações e reações, e de como chegámos até aqui.
“A forma como manifestamos a nossa alegria, ou como sofremos os mais diversos problemas, encontra tradução na música, quer seja nas melodias, quer seja nas letras”.
Com a PROMOB, os Cantares Populares de Bustos mantêm uma estreita parceria – amizade – que já deu frutos em projetos como a recriação do Chá das 5 no Palacete do Visconde ou o espetáculo “De Ter Raízes no Chão”, decorrido na segunda edição do Festival Semente. Partilhamos, além da paixão pela música e a cultura, o gosto e o trabalho por uma comunidade que se conheça melhor a si própria, à sua história, raízes e idiossincrasias.
Espetáculo "De Ter Raízes No Chão", com Eduarda Mota, Ricardo Regalado e Cantares Populares de Bustos - março de 2022
Para o futuro, o grupo promete aprendizagem, paixão, tempo e espaço para a partilha de experiências e canções, com, por exemplo, o Cantábus – Festival Bienal de Música Tradicional, que organiza e promove. Nele congrega as suas cores e sonoridades com as raízes e cantigas de grupos convidados - a próxima edição dar-se-á ainda este ano, fiquem atentos!
Quarenta (e um) anos é muito tempo, mas os Cantares Populares de Bustos conservam energia e sentido de missão bastantes para perdurar, fazendo a canção tradicional portuguesa "resistir à erosão do tempo" e viver nas suas vozes e instrumentos, seja qual for a formação que tomem.
Comentários